Entrevista com J.K. Rowling sobre The Cuckoo's Calling (O Chamado do Cuco)


Olá, pessoal!
Não sei se vocês sabem, mas dia 1º de Novembro/2013 será lançado, pela Editora Rocco, o novo livro da J.K. Rowling chamado "O Chamado do Cuco".
Aqui está uma entrevista cedida pela autora, na qual ela fala um pouco da obra, do pseudônimo e algumas outras curiosidades
Espero que gostem!

A entrevista:

1)Por que você escolheu um romance policial e por que sob pseudônimo? 

J.K.: Sempre adorei ler ficção policial. No fundo, a maior parte das histórias de Harry Potter é de detetive (Harry Potter e a ordem da Fênix mais parece uma investigação dos porquês), mas há um bom tempo eu queria experimentar a coisa para valer.  

Quanto ao pseudônimo, eu estava ansiosa para voltar ao início da carreira de escritora neste novo gênero, trabalhar sem a euforia e as expectativas e receber um retorno sem verniz nenhum. Foi uma experiência incrível e eu só queria que tivesse uma vida mais longa.


2) Por que você decidiu escrever como homem? Isso influenciou de alguma maneira sua escrita? 

J.K.:Certamente eu queria colocar minha persona de escritora o mais distante possível de mim; assim, um pseudônimo de homem me pareceu uma boa ideia. Tenho orgulho de dizer, porém, que quando me “desmascarei” a meu editor David Shelley, que leu e gostou de O chamado do cuco sem perceber que foi escrito por mim, uma das primeiras coisas que ele disse foi “eu nunca teria pensado que uma mulher escreveria isto”. Ao que parece, consegui incorporar meu homem interior!  

3) Por que o nome de Robert Galbraith? Tem algo a dizer a todos os Robert Galbraiths do mundo? 

J.K.: Só espero que os verdadeiros Robert Galbraiths do mundo sejam tão clementes quanto os verdadeiros Harry Potters. Devo dizer que não creio que seus apuros sejam muito constrangedores.  

Escolhi Robert porque é um de meus nomes preferidos para homem, porque Robert F. Kennedy é meu herói e porque, felizmente, eu não tinha usado em nenhum dos personagens da série Harry Potter ou em Morte súbita.  

Galbraith me veio por uma razão um tanto estranha. Quando eu era criança, queria muito ser chamada de “Ella Galbraith”, não sabia por quê. Nem mesmo sei como tomei conhecimento do sobrenome, porque não me lembro de ter conhecido ninguém com ele. Seja como for, o nome me fascinava. Na realidade, considerei me chamar L. A. Galbraith pera a série Strike, mas por motivos óbvios decidi que as iniciais eram uma má ideia.  

Mais estranho ainda, havia um economista famoso de nome J. K. Galbraith, lembrança que só tive quando era tarde demais. Fiquei muito paranoica que as pessoas usassem isso como pista e descobrissem minha verdadeira identidade, mas felizmente ninguém investigou muito a fundo o nome do autor.  

4) Por que decidiu que o “autor” teria uma formação militar? 

J.K.: Era o motivo mais fácil e mais plausível para que Robert soubesse como opera e investiga a sessão de Investigação Especial. Outro motivo para torná-lo militar, trabalhando com segurança civil, era dar-lhe uma boa desculpa para não aparecer em público, nem fornecer fotografias.    

5) Que pesquisa fez para escrever O chamado do cuco ? 

J.K.: Entrevistei militares na ativa e na reserva pelo máximo que me permitiram esse incômodo. Na realidade, todas as informações factuais vieram de fontes militares. Conheço vários soldados (da ativa e veteranos) e sou próxima de duas pessoas em particular, que foram incrivelmente generosas enquanto eu pesquisava a formação de meu herói (elas também me ajudaram a construir um currículo para Robert). Um desses amigos é do SIB (Special Investigation Branch). Assim, embora o próprio Strike seja inteiramente fictício, sua carreira e as experiências que ele teve baseiam-se em relatos verdadeiros de soldados reais.  

Na abertura do romance, Strike vive uma grave falta de sorte. Uma das críticas que mais apreciei (antes de Robert ser desmascarado) disse que meu herói enfrentava sua situação “com determinação, em vez dos clichês de autodestruição”. Dei a Strike muitas virtudes dos militares de quem sou próxima: força de caráter, humor negro, resistência e engenhosidade.  

Pesquisei sobre amputações abaixo do joelho e também visitei muitos pubs de Londres. A pesquisa envolvida na criação de um romance contemporâneo foi uma parte imensa do prazer.  

6) Por que ambientar o romance em Londres? Por que não Edimburgo? 

J.K.: Amo Edimburgo e a cidade forma um pano de fundo impressionante e tentador para a ficção criminal, mas eu sentia que já havia muitos detetives literários atraentes andando por suas ruas.  

Meus pais eram londrinos e passei muito tempo ali em minha infância e na adolescência, visitando parentes. Morei lá em meus vinte anos e ainda adoro o lugar. É possível escrever sobre Londres a vida toda e não esgotar as tramas, as ambientações ou a história.  

7) Por que o título O chamado do cuco ? 

J.K.: O título é retirado de um poema melancólico de Christina Rossetti chamado, simplesmente, “Lamento”, das lamentações por alguém que morreu jovem demais. O título também contém uma alusão sutil a outro aspecto da trama, mas não posso explicar sem estragar a história, deixarei que os leitores descubram.  

8) Pode nos falar um pouco mais de Strike e por que decidiu fazer dele o personagem que é? E sua relação com Robin, que é intrigante? 

J.K.: Além de ser ex-policial militar, meu herói é filho ilegítimo de um homem muito famoso que ele só encontrou duas vezes. Strike me proporciona um meio de falar de forma objetiva e desapaixonada das excentricidades que acompanham a fama. No exército, Strike teve o anonimato a que ansiava; agora que saiu, encontra quem faça muitos pressupostos sobre ele, com base unicamente em sua origem familiar. O sobrenome do personagem veio de um homem real (mas falecido) mencionado em um livrinho sobre a Cornualha. Seu nome de batismo, dado por sua mãe groupie e excêntrica, é incomum e uma irritação recorrente para ele quando as pessoas o entendem mal; sentimos que ele preferia se chamar Bob. Strike é um homem brilhante, mas ferido, que ainda se prende fortemente a alguns princípios para ele sagrados. Tenta ganhar a vida tolerando as dificuldades físicas que para muitos civis seriam insuportáveis e mantendo uma disciplina que muitos dispensariam em seu estado.  

A assistente de Strike neste caso, Robin, é uma secretária temporária que chega devido a um equívoco (ele tinha a impressão de haver cancelado seu contrato com a agência, sem ter fundos para pagar). 
  
Robin escondeu de todos, inclusive do noivo, a ambição de toda a vida de se envolver em trabalho de detetive. Fica emocionada quando se vê trabalhando para um detetive particular, mas sua relação no início não é promissora.  

Amo tanto Robin quanto Strike e isso significa alguma coisa. Ela evoluiu em grande parte de minha própria experiência como temporária, muito tempo atrás, em Londres, onde eu sempre conseguia alguma renda entre os empregos porque sabia datilografar 100 palavras por minuto porque escrevia ficção em meu tempo livre.  

No início Robin acha Strike muito pouco atraente e antipático, entre seu mau humor e seu cabelo “de pentelho”, mas logo começa a admirar o homem, sua ética de trabalho e sua inteligência. Enquanto isso, Strike, ciente de sua suscetibilidade como recém-separado e homem isolado, está decidido a não gostar demais desta garota prestativa e inegavelmente sexy e a não confiar demasiado nela. Foi muito divertido escrever a relação resultante, com muitas estranhezas e uma amizade que surge aos poucos.  

9) Por que decidiu doar seus royalties à ABF The Soldiers’s Chariry? 

J.K.: Eu esperava poder guardar segredo da identidade de Robert por muito mais tempo, mas sempre soube que, se e quando eu fosse descoberta, pediria que meus royalties fossem pagos à ABF The Soldiers’s Charity. Em parte é por gratidão às pessoas que ajudaram na pesquisa, mas também porque a pesquisa e a redação do personagem de Strike me deram uma apreciação e uma compreensão maiores do quanto exatamente esta organização faz por soldados na ativa, reservistas e suas famílias, e o quanto o apoio é necessário.  

10) Autografou alguma vez exemplares como Robert Galbraith? Como podemos saber se são autênticos? 

J.K.: Sim, fui solicitada por meu editor a autografar alguns exemplares de O chamado do cuco como Robert Galbraith, que ficaram disponíveis para venda na época no lançamento. Embora não possamos verificar se algum livro hoje no eBay é autêntico, quaisquer livros futuros que eu tenha autografado serão autenticados. A assinatura do Sr. Robert Galbraith é característica e consistente; passei um fim de semana inteiro praticando para ter certeza.  

11) Revelar a identidade verdadeira de Robert Galbraith não foi simplesmente uma campanha de marketing elaborada para impulsionar as vendas? 

J.K.: Quando respondi a esta pergunta pela primeira vez, só pude dizer que não planejei nem desejava a revelação. Sem saber como aconteceu, fiquei mais decepcionada do que furiosa quando fui desmascarada.  

Embora tenha sido lançado há apenas três meses*, Robert vendeu 8.500 exemplares em todos os formatos (capa dura, ebook, para biblioteca e audiolivro), chegou a ser número um em vendas de audiolivros no Reino Unido e recebeu duas ofertas de produtoras de televisão. O sucesso de Robert neste período se compara favoravelmente com o sucesso de J.K. Rowling no período equivalente de sua carreira e tenho muito orgulho dele!  
Quando o jornalista do Sunday Times nos procurou, saltei à conclusão errônea de que alguém, de uma das produtoras de TV interessadas, teria desconfiado. Não só este autor inédito era avesso a aparecer em reuniões para uma adaptação para a telinha, como não havia fotos dele em lugar nenhum e ele por acaso tinha o mesmo agente e editor de J.K. Rowling!  

Porém, no final do dia em que o Sunday Times publicou a matéria, revelou-se que alguém de quem eu nunca ouvira falar contara meu segredo no Twitter. Seguiram-se então alguns dias muito desagradáveis em que fui obrigada a me perguntar quem do número mínimo de pessoas a quem eu me confidenciei poderia ter passado a informação a alguém que a twitaria ao mundo. Em momento algum pensei que a possível fonte fosse um advogado de uma firma de que eu evidentemente supus poder esperar inteira confidencialidade. A revelação foi um choque imenso e uma profunda decepção.  

Meu plano de escrever sob pseudônimo era antigo e embora eu não tenha tido o tempo que esperava, foi maravilhoso enquanto durou. Desfrutei de um período de escrita e pesquisa sem a pressão ou as expectativas e foi incrível receber feedback de editores, críticos e leitores sob um nome diferente.  
*Informação divulgada em julho de 2013, três meses após o lançamento do livro no Reino Unido.  

12) Vai continuar a escrever como Robert Galbraith? 

J.K.: Haverá outros livros com Cormoran Strike? Sim, pretendo continuar escrevendo a série como Robert. Acabo de concluir a sequência e esperamos que seja lançada no ano que vem. 


2 comentários :

  1. Hey querido!

    Curti a entrevista, dá pra ver que ela pesquisou bastante e trabalhou duro pra construir o livro. Deve ter dicado muito bom!

    Um beijo
    http://escolhasliterarias.blogspot.com.br/

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